Desde a pré-campanha, Aos Fatos acompanhou e checou os discursos, entrevistas e debates que contaram com a participação dos dois postulantes à vaga de prefeito na maior capital do país. A seguir, listamos os principais argumentos desinformativos usados pelos candidatos ao longo da disputa eleitoral.

  1. Ricardo Nunes (MDB)
  2. Guilherme Boulos (PSOL)

Ricardo Nunes (MDB)

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, homem de cabelos, olhos e barba escura, olha para o lado 

“A Regina já falou que ela não fez [boletim de ocorrência]. Ela contratou um advogado. Eu até separei o material para te entregar. O advogado entrou com uma petição falando que queria esse boletim de ocorrência assinado. Veio a resposta da delegacia que não existe esse boletim de ocorrência” — em entrevista ao UOL e à Folha de S.Paulo, em 15.jul.2024.

A declaração foi dada por Nunes em resposta a um questionamento sobre o boletim de ocorrência que sua mulher, Regina Carnovale, registrou contra ele em 2011 por violência doméstica e ameaça. O emedebista negou que o registro exista e disse que ele teria sido “forjado”, o que é FALSO.

O documento foi entregue à Folha de S.Paulo em 2020. O jornal também encontrou na época publicações nas redes de Carnovale que narravam brigas entre os dois. À polícia, a mulher acusou Nunes de não aceitar a separação e de ameaçá-la “todos os dias”.

“Nós temos no Brasil o percentual de evasão escolar acima de 5%, 5,5%. Vamos falar de São Paulo. A gente tinha na época lá em 2015, 2016, 1,5% de evasão. Eu estava com 0,95%, eu falei, não, ainda é muito. A gente chegou agora em 0,7% de evasão escolar” — em entrevista ao Flow Podcast, em 11.set.2024.

A comparação feita pelo prefeito é incorreta por dois motivos:

Os últimos números disponíveis foram calculados em 2021 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Na época, a rede municipal de São Paulo registrou 2,8% de evasão escolar entre alunos do ensino médio e 0,9% entre matriculados no fundamental.

Os números representam uma queda com relação aos dados de 2015 e 2016, quando a taxa de evasão escolar foi de 1,7% no fundamental e de 6,9% no médio.

“O primeiro centro TEA da América Latina. Eu já estou construindo. O primeiro centro pras pessoas com transtorno do espectro autista, né? Para os autistas. Eu estou construindo um já, entrega em novembro” — em entrevista ao Roda Viva, em 9.set.2024.

A declaração do candidato é FALSA, porque o Centro TEA (Centro Municipal para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo) que está sendo construído na zona norte de São Paulo não será o primeiro da América Latina. Equipamentos parecidos já existem em cidades como Rio de Janeiro, Balneário Camboriú (SC) e São Luís.

“Eu inaugurei 19 UPAs” — em entrevista ao Inteligência Ltda., em 21.set.2024.

Nunes exagera o número de UPAs inauguradas em sua gestão. Questionada pelo Aos Fatos, a Secretaria Municipal de Saúde enviou uma lista de 18 estabelecimentos que teriam sido entregues pelo prefeito. Três deles, no entanto, foram inaugurados antes da atual gestão: a UPA Jabaquara, a UPA 24h Vera Cruz e a UPA Santo Amaro.

“Eu peguei a média das capitais do ensino municipal do país, pra gente poder ter média. Média é média, né? Qual foi a média do ensino nos anos finais? Nós tivemos uma nota de 5,6, e a nossa [municipal] de 5,8. Se pegar os anos finais e os anos iniciais. Então, na média, a gente teve dois pontos a mais” — em entrevista ao Flow Podcast, em 11.set.2024.

Ricardo Nunes é impreciso ao dizer que a educação municipal de São Paulo teria ficado com uma média maior que a das capitais brasileiras no Ideb 2023 no ensino fundamental. Isso só é verdade apenas para os anos finais.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, a capital paulista registrou nota de 5,6, enquanto a média nacional foi de 5,8 — o contrário do mencionado pelo candidato. Já nos anos finais, a nota da cidade de São Paulo foi de 4,8 — 0,2 ponto a mais do que a média nacional (4,6).

O prefeito também omite que os valores representam uma queda no desempenho da educação municipal de São Paulo em relação a 2019, quando a cidade registrou nota 6 nos anos iniciais e 4,8 nos anos finais.

Guilherme Boulos (PSOL)

Guilherme Boulos, homem branco de cabelo e olhos escuros e barba levemente grisalha fala ao microfone

“Meu voto falou: eu não vou entrar no mérito se ele cometeu rachadinha ou não. Eu vou entrar no mérito do que é a regra do Conselho de Ética. O que vale pra um tem que valer pro outro. Não dá pra uns caras serem livrados por um argumento de que foi antes da legislatura e esse outro [Janones], porque é de outro campo político, ser acusado” — em entrevista ao Flow Podcast, em 3.set.2024.

Para rebater a acusação, repetida em diversas ocasiões durante a campanha, o candidato distorceu as regras e o entendimento do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados para justificar seu voto pelo arquivamento das denúncias contra André Janones (Avante-MG).

Em seu relatório, Boulos comparou o caso do parlamentar ao de Rui Costa (PT-BA), cujo processo foi rejeitado em 2014 por analisar fatos ocorridos antes de o político se tornar deputado federal. Ele argumentou que Janones também não estava no cargo de deputado na época em que os crimes teriam ocorrido, o que não é verdade.

Questionado sobre a contradição, Boulos mudou de discurso e ou a citar uma suposta “jurisprudência” do Conselho de Ética que limitaria os processos a casos ocorridos na legislatura em curso. Porém, não há norma que determine isso no Regimento Interno da Câmara e nem no Código de Ética e Decoro Parlamentar.

“Roubo de celular, que é o crime que mais explodiu em São Paulo” — em entrevista ao Inteligência Ltda., em 3.out.2024.

A declaração é FALSA. Estatísticas oficiais compiladas pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) mostram que o número de celulares subtraídos na capital paulista caiu entre 2021 e 2023.

Levando em consideração o número de boletins de ocorrência registrados como roubo e furto de celular nas delegacias da capital, houve:

A mesma base de dados mostra que o crime que mais cresceu nesse período foi estupro, que ou de 2.661 ocorrências em 2021 para 3.373 em 2023, um aumento de 26,8%. Outros crimes que apresentaram aumento foram lesão corporal dolosa (aumento de 26,7%) e furtos em geral (22,5%).

“Acho que o presidente expressou a posição dele no 1º de maio, num ato das centrais sindicais, que não era ato oficial de governo, num feriado, que ele estava fora da agenda oficial, e expressou quem é o candidato dele” — em entrevista ao UOL e à Folha de S.Paulo, em 12.jul.2024.

Em junho deste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) condenou Boulos e o presidente Lula (PT) por propaganda eleitoral antecipada por conta de um discurso em que o petista pediu voto para o então pré-candidato. Boulos argumenta que não houve irregularidade, porque o ato não foi organizado pelo governo e o presidente estaria fora da agenda oficial. Isso, no entanto, é FALSO.

Lula pediu voto para Boulos durante um evento organizado pelas centrais sindicais em 1º de maio, Dia do Trabalho. Diferentemente do que afirma o pré-candidato, o evento estava previsto na agenda presidencial e o discurso de Lula foi transmitido ao vivo pelo canal da TV Brasil no YouTube.

“São Paulo, hoje, tem pouco menos de 7.500 guardas, certo? A população de São Paulo é de 12 milhões de habitantes, um pouco menos que isso. O Rio de Janeiro tem quase 8.000 guardas e tem a metade da população de São Paulo” — em entrevista ao Inteligência Ltda., em 2.out.2024.

Boulos é impreciso ao dizer que a GM-Rio (Guarda Municipal do Rio de Janeiro) tem quase 8.000 agentes. No ano ado, a prefeitura carioca divulgou que apenas 5.806 dos 7.306 funcionários efetivos da guarda estavam em serviço. Os outros 1.500 haviam sido cedidos a outros órgãos estatais, afastados ou empregados em trabalhos internos. Já São Paulo tinha, em maio deste ano, 7.039 agentes na ativa.

“De um lado [de São Paulo] IDH da Suécia, no outro IDH da Somália, dos países mais pobres do mundo” — em entrevista ao Roda Viva, em 27.ago.2024.

De acordo com dados de 2010 da prefeitura — os últimos disponíveis — o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da subprefeitura de Pinheiros era de 0,942. O número é um pouco maior do que o índice da Suécia — 0,910 em 2010, segundo a ONU.

Já o menor IDH do município é o do bairro de Parelheiros, que era de 0,680 em 2010. O índice corresponde a quase o dobro do registrado pela Somália, que tinha um IDH de 0,380 em 2022 — único ano em que o país teve dados coletados pela ONU.

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