Comemora-se nesta quarta-feira (2) o Dia Internacional da Checagem de Fatos, criado em 2016 para reforçar a importância da verificação como ferramenta de fortalecimento da democracia e da circulação de informação confiável.
Além de celebrar o trabalho das organizações de checagem, a IFCN (International Fact-Checking Network) lembra que a data também serve como marco para refletir que a responsabilidade com os fatos cabe a todos que navegam nas redes, e não só a profissionais.
Pensando nisso, Aos Fatos lista abaixo algumas ferramentas importantes para aqueles que queiram descobrir por conta própria o que é verdade ou não na internet.
As estratégias abarcam desde métodos mais recentes, como dicas para verificar se um conteúdo foi ou não gerado por inteligência artificial, até táticas mais tradicionais, como a busca reversa e a pesquisa avançada.
- Como verificar se um conteúdo foi gerado por IA
- Uso de ferramentas de IA para checagem de fatos
- Busca avançada no Google
- Busca reversa de imagens
- Busca reversa de vídeos
1. Como verificar se um conteúdo foi gerado por IA

Embora ferramentas que fazem uso da inteligência artificial sejam aprimoradas constantemente, as imagens criadas por essa tecnologia ainda possuem falhas. Na hora de verificar se um conteúdo foi ou não gerado por IA, atente-se principalmente a:
- Rostos borrados, semelhantes entre si ou com aspecto plastificado;
- Orelhas com formatos muito diferentes do rosto;
- Mãos com um número incorreto de dedos ou formatos anatômicos estranhos;
- Membros, como braços, com tamanhos diferentes;
- Inconsistências na iluminação e na sombra;
- Textos com erros de grafia ou logotipos com design adulterado;
- Elementos que estão ao fundo da imagem, já que a IA pode distorcê-los em detrimento da nitidez do elemento principal da foto.

No caso de deepfakes, muito usados em golpes virtuais, também há dicas que podem ser úteis para verificar se o conteúdo é autêntico ou não:
- Sincronização das falas: em inúmeros casos, o movimento dos lábios não coincide com o que é falado. Em outros, é necessário um olhar mais atento para ver se há congruência entre o tom emocional das palavras faladas e as reações exibidas no vídeo. Em conteúdos gerados por IA, as pessoas costumam ter microexpressões faciais limitadas e repetitivas;
- Piscar de olhos: seres humanos costumam piscar em intervalos irregulares. Por isso, atente-se a vídeos que mostram personagens que repetem a mesma sequência de piscadas em intervalos de tempo bem definidos;
- Sombras e cores: o fato de a tonalidade da região central do rosto não coincidir com a do restante da cabeça pode ser um indício de adulteração;
- Elementos visuais que desaparecem: atente-se ao repentino desaparecimento e ressurgimento de elementos visuais, como galhos de árvores e detalhes em portas;
- Erros espaciais: outro problema comum e facilmente identificável ocorre quando parte do corpo de uma pessoa aparece em posições impossíveis ou improváveis, como atravessando portas e objetos.
Um caso recente foi o de um vídeo criado por IA que simula uma juíza fazendo críticas à conduta do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. No registro (veja abaixo), é possível perceber que as portas do armário marrom que aparece ao fundo se distorcem no momento em que a cabeça da mulher se move para a direita.

2. Uso de ferramentas de IA para auxílio na checagem

Ferramentas de IA generativa como o ChatGPT e o Copilot também podem ajudar a verificar conteúdos que circulam nas redes ao agregar links e referências sobre o assunto. Nesses casos, no entanto, é importante construir um prompt — conjunto de comandos enviados à IA — detalhado e sem ambiguidades, que permita que o modelo gere respostas mais específicas.
Em página que explica os conceitos de geração de textos e prompts, a OpenAI, criadora do ChatGPT, traz algumas orientações para a criação de comandos específicos:
- Dê instruções detalhadas, que reduzam as chances de ambiguidades;
- Forneça exemplos ao modelo sobre o tipo de resposta que você espera receber;
- Descreva com clareza os objetivos que você espera alcançar com a resposta.
Ao questionar algo às ferramentas de IA, lembre-se sempre de pedir que forneçam fontes recentes e confiáveis. No ChatGPT e no Copilot, elas podem ser adas tanto ao longo do texto quanto ao pé da resposta (veja abaixo um exemplo da primeira ferramenta).
Na barra de comandos, o ChatGPT também fornece a opção “Buscar na Web”, que permite consultas mais abrangentes.

É importante ressaltar, no entanto, que o uso de ferramentas de IA generativa para checagem de fatos deve ser visto com cautela. Uma série de estudos publicados nos últimos anos mostram que essa tecnologia pode fornecer respostas limitadas, que vão desde imprecisões a erros factuais graves.
Por isso, é importante sempre consultar fontes adicionais e confiáveis de informação e não tomar as respostas de chatbots como verdades absolutas. Para conferir se o conteúdo apresentado pela IA realmente é verdadeiro, vale consultar todas as fontes listadas ou até recorrer aos métodos mais clássicos de checagem, que vamos listar abaixo.
Também é possível tirar dúvidas sobre peças de desinformação com a FátimaGPT, a versão mais atualizada da robô checadora do Aos Fatos. Com base em um banco de dados formado por todas as checagens publicadas pela redação conectado ao ChatGPT-4, o modelo é capaz de responder questionamentos de usuários sobre conteúdos já verificados.
3. Busca avançada no Google

A maioria das pessoas faz rotineiramente pesquisas em buscadores, mas nem todos sabem que há comandos que permitem fazer pesquisas de forma mais específica. Confira abaixo quatro operadores importantes:
Aspas. Ao escrever uma frase entre aspas duplas, o Google retorna uma pesquisa apenas com resultados que contenham os termos dispostos naquela ordem exata. Exemplo: “como declarar o Imposto de Renda”.

Texto dentro de um site. Para pesquisar por palavras dentro de um site específico é possível usar o operador site:. Esse operador é útil para pesquisar por termos utilizados em golpes virtuais, como expressões e valores que aparecem em supostas publicações feitas pelo g1, o portal de notícias da Globo.
Um exemplo foi o golpe do falso leilão dos Correios que circulou em setembro de 2024. Na época, criminosos fizeram crer que o g1 havia noticiado que a estatal estava leiloando laptops, televisores e iPhones a partir R$ 86,28.
Ao digitar site:g1.globo.com “leilão” + “R$ 86,28”, no entanto, o Google não retornou qualquer resultado, um forte indício, portanto, que não havia registros de qualquer notícia publicada com esses dois termos, o que acabou sendo confirmado pela assessoria da emissora.

Termo esquecido. Caso queira pesquisar por dois ou mais termos que estejam relacionados, mas tenha se esquecido de um deles, basta usar o * na caixa de pesquisa. Ao procurar por leite * café, por exemplo, serão exibidos os resultados que contenham as duas palavras, além de outros termos. Exemplo: leite e café, leite com café, entre outros.
O mesmo ocorre se você deseja procurar por palavras derivadas. Ao pesquisar por tribut*, por exemplo, serão exibidos resultados que contenham as palavras tributo, tributação, tributário, tributada, entre outras.
Cache. O Google decidiu aposentar o cache de páginas em fevereiro de 2024. A ferramenta servia para consultar alterações e ar sites bloqueados. Isso, no entanto, ainda pode ser feito em alguns outros mecanismos de busca, como o Yandex.
Outra ferramenta muito útil para pesquisar versões antigas de páginas na internet é a Wayback Machine. É só jogar o link na busca para ver se alguém salvou aquela mesma página em algum momento no ado.
4. Busca reversa de imagens

Para fazer uma pesquisa reversa por imagens, os usuários podem usar as ferramentas disponibilizadas por mecanismos de busca como Google, Bing e Yandex.
As plataformas têm um pequeno botão no canto direito da barra de pesquisa que lembra uma câmera fotográfica. Ali, é possível inserir o link de uma foto ou fazer o de uma imagem para tentar encontrar correspondências similares ou idênticas.

Há também outros sites que fazem esse serviço de maneira gratuita, como o TinEye e o Duplichecker, ou plugins para navegadores, como o InVid.
Uma dica que pode funcionar em alguns casos é fazer cortes na imagem e realizar a busca reversa por essas partes. A seleção de trechos mais definidos e menos genéricos das fotos facilita a pesquisa.
5. Busca reversa de vídeos

A busca reversa de vídeos funciona de maneira semelhante à de imagens. O procedimento mais simples para verificar a autenticidade é o seguinte:
- Reproduzir o vídeo no próprio celular ou computador;
- Tirar prints de trechos do vídeo;
- Em seguida, fazer uma busca reversa pelos prints;

É possível também usar plugins de navegadores, como o InVid, para separar imagens de trechos do vídeo e realizar a busca reversa.
Outra dica importante é pesquisar partes do que é falado no vídeo em mecanismos de busca (com e sem aspas) para encontrar o contexto original dos registros.
O caminho da apuração
Aos Fatos consultou reportagens próprias e conteúdos publicados por terceiros sobre recursos e métodos para checar informações nas redes sociais. Os exemplos foram listados de maneira didática, com fontes e um o-a-o ilustrado por imagens.