As idas e vindas sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) têm revivido nas redes boatos de que o governo federal planeja tributar o Pix por meio da criação de uma “MF digital”. As alegações sobre o tema foram republicadas por dezenas de sites e alcançaram cerca de 1 milhão de visualizações no X. O governo federal nega qualquer possibilidade de taxar o Pix.
Os boatos se intensificaram a partir do último domingo (1º), dias depois de o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), antecipar medidas que seriam anunciadas pelo governo. Uma delas era o aumento das alíquotas do IOF para ajudar a cumprir as obrigações orçamentárias.
O anúncio gerou forte reação do mercado financeiro e das principais associações empresariais. Isso fez com que o governo convocasse uma reunião de emergência e recuasse parcialmente.
Após negociações com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ficou acertado que uma proposta alternativa será apresentada aos líderes partidários e só depois tornada pública na semana que vem.

‘MF Digital’
Aos Fatos identificou que o boato de que o governo Lula estaria estudando criar um tributo sobre o Pix — a “MF digital” — para aumentar a arrecadação sem mexer na alíquota do IOF começou a circular em perfis apócrifos de oposição nas redes por volta das 16h do último domingo (1°).
A MF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) é um tributo que incidiu sobre operações financeiras, como saques, pagamentos em débito e transferências entre 1997 e 2007.

A data e o horário das primeiras publicações encontradas pela reportagem coincidem com dados do Google Trends, que mostram que os maiores picos de interesse pelo termo “mf digital” após o anúncio do aumento do IOF ocorreram a partir de 1° de junho.
Algumas publicações que disseminaram o boato citavam que seriam aplicadas sobre transações via Pix alíquotas de 0,1% a 0,2%. Segundo esses posts, o tributo também seria estendido a outros tipos de transações.

A taxa é similar à de uma medida anunciada em 2020 pelo então ministro da Economia, Paulo Guedes. Na época, Guedes anunciou que o governo estava estudando a criação de um “microimposto digital” sobre transações financeiras, com alíquotas que poderiam variar entre 0,2% e 1%. Na época, a ideia foi apelidada de “Nova MF” e “MF Digital”.
Pix segue livre de taxas
Em nota enviada ao Aos Fatos, a Secom (Secretaria da Comunicação) da Presidência e o Ministério da Fazenda negaram que esteja sendo estudada a criação de um novo imposto sobre transações via Pix.
“É falsa a informação de que o governo estuda criar uma ‘MF digital’ ou qualquer tipo de taxação sobre o Pix. Não existe nenhuma proposta em análise para instituir tributo sobre essa forma de pagamento, muito menos como alternativa à elevação do IOF”, diz o texto.
Em janeiro deste ano, o governo editou a MP 1.288/2025 para garantir que não haverá a incidência de taxas sobre o Pix. Em nota enviada ao Aos Fatos, o Ministério da Fazenda diz que o compromisso com a gratuidade e o sigilo das transações foi reafirmado por meio da MP.
O prazo de 120 dias para a aprovação da medida, no entanto, caducou — ou seja, perdeu a validade — na última segunda-feira (2). Lideranças da bancada governista consultadas pela CNN Brasil afirmaram que a medida era simbólica e apenas reforçava a gratuidade assegurada por normas já em vigor, como a própria resolução do BC que instituiu o sistema.
Desde a campanha eleitoral, Lula nega que irá taxar o Pix. Isso, no entanto, não impediu a circulação viral de boatos nas primeiras semanas deste ano, que diziam que transações acima de R$ 5.000 ariam a pagar impostos.
A viralização da mentira gerou uma crise no governo, que teve de se mobilizar para criar uma campanha publicitária de emergência.
O caminho da apuração
Aos Fatos montou a cronologia da crise do IOF a partir de reportagens publicadas na imprensa e declarações feitas por membros do governo federal. Utilizamos também dados do Google Trends e buscas avançadas para datar a origem dos boatos sobre uma eventual criação da ‘MF digital’ que atingiria transações via Pix.