Posts misóginos editam falas e imagens de Janja para sugerir caso com Macron

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Não é novidade que a primeira-dama Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, tenha uma legião de haters na internet. Desde que se casou com o presidente Lula, em maio de 2022, Janja já foi chamada de burra, satanista e prostituta por diversas publicações nas redes.

Essa última linha de ataques, que partem para a misoginia, eram os mais recorrentes até um tempo atrás: mulheres diferentes que vendem conteúdo adulto na internet foram identificadas como Janja por posts nas redes para sugerir que a primeira-dama seria “devassa” e que “não se daria ao respeito”.

A maior parte das publicações têm se voltado agora à participação de Janja em viagens internacionais. Apelidos como “Esbanja” e sites como o Janjômetro acusam a primeira-dama de promover gastança com dinheiro público.

E como quem tem limite é município, usuários, nas últimas semanas, conseguiram juntar as duas linhas de ataques: Janja estaria gastando dinheiro público para viajar e trair Lula.

Imagem de avião verde e amarelo com chifres de boi com os dizeres ‘AeroCorno Lula’. Acima da imagem, há diversas frases de supostas manchetes jornalísticas, como um texto da Veja com o título ‘Minha mulher não é clandestina’: Lula rebate críticas à viagens de Janja’
Além de atacar Janja, posts aproveitam para zombar do presidente Lula (Reprodução/Facebook)

Enquanto algumas publicações apenas compartilharam títulos de notícias sobre a viagem de Janja à França de forma sugestiva, outras apelaram para a edição desinformativa de uma entrevista da primeira-dama à emissora sa RFI.

Nela, Janja disse que planejava acompanhar Lula ao Vietnã, mas que o presidente francês Emmanuel Macron teria ligado para convidá-los para o evento de debates da Aliança Global Contra a Fome, que ocorreu no final de março:

“Eu ia ao Vietnã com ele [Lula], acompanhá-lo, mas o presidente Macron ligou e fez questão que eu estivesse presente aqui. Gostando ou não, eu tenho feito da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza também uma causa minha, não apenas do presidente Lula. Eu trouxe essa pauta para mim, especialmente para as mulheres. Acho que é importante falar sobre isso”, disse Janja.

Usuários, no entanto, recortaram a fala para tirar as citações ao evento, destacar o convite de Macron e adicionar trechos da música "Bois Don't Cry" (mais conhecida como "Ser corno ou não ser"), do Mamonas Assassinas.

Post no Instagram formado por uma frase — ‘Janja deixa Lula no Vietnã e vai a Paris a pedido de Macron’ — e duas imagens. À esquerda, Janja, de blazer bege e camisa preta, fala ao microfone que tem o logotipo da RFI. À direita, Macron, de terno, beija rosto de Janja, que está de vestido azul.
Posts editaram entrevista de Janja para sugerir traição de primeira-dama (Reprodução/Instagram)

Junto com os vídeos sugestivos, também voltou a viralizar uma cena descontextualizada do encontro entre Macron e o casal presidencial brasileiro em 2024.

Naquele ano, Janja recebeu um broche da Ordem Nacional da Legião da Honra do governo francês. O momento em que Macron coloca o item no blazer da primeira-dama foi registrado em vídeo, que ou a ser recortado para sugerir que o presidente francês estaria abotoando ou ajeitando a blusa de Janja em tom sugestivo.

Em primeiro plano, Macron, de terno, sorri para Janja, que retribui o sorriso. Ao fundo, Lula olha a cena. Acima da imagem, há a frase ‘Janja diz que foi a Paris sem Lula por pedido de Macron: fez questão’.
Imagem antiga de cerimônia de honraria sa também tem sido usada para alimentar boato de traição nas redes (Reprodução/Instagram)

A entrevista à RFI e as cenas da cerimônia também têm sido compartilhadas junto de uma reportagem antiga da Veja, cujo título é “Paris: Macron entende ausência de Lula e diz que Janja ‘será bem acolhida’”. O texto, que circula como se fosse recente, tem sido usado como outro indício da suposta traição.

A reportagem, no entanto, foi publicada em julho de 2024 e trata das Olimpíadas daquele ano. Lula não conseguiu comparecer ao evento por excesso de compromissos e enviou a primeira-dama para representá-lo. Na época, Macron disse que se sentiria honrado pela presença de Janja e que sua esposa, a primeira-dama Brigitte Macron, iria recebê-la “com toda a atenção”.

Ou seja, não há nenhum registro ou sequer evidência de que Janja e Macron estejam tendo um caso. Todas essas publicações — mesmo as que tratam o assunto como uma fofoca ou piada — são uma forma de misoginia: buscam manchar a reputação de Janja e desconsiderar sua atuação como primeira-dama em eventos internacionais.


#valeressaltar. Alegações sobre o suposto affair contrariam uma narrativa conspiratória que opositores têm disseminado nas redes contra Macron há anos: a de que o presidente francês seria homossexual. Montagens e fotos descontextualizadas em que ele aparece abraçando homens têm sido compartilhadas em diversas línguas para sugerir que seu casamento seria de fachada.


#valeressaltar2. A direita não é a única responsável por ataques misóginos nas redes. Por mais que um levantamento do Aos Fatos tenha mostrado um volume maior de ataques às mulheres do espectro político da esquerda, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também já foi alvo de alegações semelhantes.

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