Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 13 mil curtidas no Instagram até a tarde desta terça-feira (3).
Você teve Covid ou tomou as picadas? Você precisa urgentemente fazer dois exames. Um deles é o fibrinogênio e o outro é o d-dímero
Um vídeo que circula nas redes engana ao orientar os vacinados contra a Covid ou aqueles que contraíram a doença a realizar exames que identificam problemas na coagulação sanguínea. Especialistas consultadas pelo Aos Fatos explicam que investigações sobre os níveis de fibrinogênio e d-dímero devem ser solicitadas apenas em casos de suspeita clínica clara.
De acordo com a imunologista Melissa Markoski, não há recomendação de órgãos internacionais de saúde, como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o CDC (Center for Disease Control, órgão de saúde do governo dos EUA) para que sejam feitos os exames em pessoas assintomáticas.
“Esses exames são solicitados apenas quando há indicação clínica, onde a pessoa tem algum sintoma ou histórico que levante suspeitas de trombose ou problemas de coagulação”, aponta a especialista.
A doutora em biociências Laura Marise, responsável pelo canal Nunca vi 1 Cientista, afirma que os exames só devem ser feitos quando há risco ou suspeita de trombose já em andamento ou em caso de investigação de doenças crônicas que afetam a coagulação — como problemas no fígado e no coração ou doenças congênitas.
Marise ainda aponta que é “impossível” atribuir às vacinas a responsabilidade por aumentar ou diminuir os níveis de fibrinogênio e d-dímero, uma vez que são raríssimos os casos de trombose em decorrência da imunização.
“É infinitamente mais provável que a pessoa tenha um evento trombótico, como AVC, infarto, embolia ou trombose venosa profunda, por causa da Covid-19 em si do que por causa da vacina”, ressalta.
Ela ainda aponta que exames de sangue feitos isoladamente “não dizem absolutamente nada, porque mesmo procedimentos cirúrgicos recentes, como tratamentos dentários, ou um machucado um pouco maior, podem fazer esses fatores subirem no sangue de forma temporária”.
Já Markoski destaca que a recomendação desse tipo de investigação de maneira indiscriminada pode ser perigosa, já que resultados normais podem ser mal interpretados e tirados de contexto. Outro problema é a possibilidade de que exames descontextualizados levem ao autodiagnóstico e à automedicação.
As especialistas ainda ressaltam que a autora da peça de desinformação engana ao estabelecer parâmetros exatos de fibrinogênio e d-dímero para pacientes. Segundo elas, não há um valor considerado ideal, e sim uma faixa de normalidade. A orientação nesse caso é que os exames sejam avaliados por um profissional de saúde.
Aos Fatos transcreveu o conteúdo da peça de desinformação com o auxílio da ferramenta Escriba. Consultamos então especialistas da área da saúde e orientações de órgãos internacionais, como a OMS e o CDC, para verificar se de fato são recomendados os exames citados pela autora do vídeo enganoso.
Referências